Um PDA na escola...

Apesar da vasta literatura sobre a pedagogia da Educação Física enfocando a importância da avaliação e tudo o mais, encontrei muito pouco sobre técnicas e o uso de novas tecnologias de registro.

Algumas possibilidades tecnológicas – gravadores de áudio e câmeras de vídeo, por exemplo –, por mais que a fidedignidade acenasse em seu favor, foram descartadas por demandar um tempo para análise e processamento no mínimo igual ao despendido em gravações, incompatível com as condições que dispomos: quatro horas semanais para analisar os registros referentes a dezesseis horas de trabalho.

Tendo em vista que já utilizo um microcomputador para tratamento de informações, organização do material didático e geração dos documentos de docência, comecei a investigar no mercado os modelos portáteis. Mas não encontrei, entre os computadores de colo (laptops ou notebooks), a portabilidade necessária. Além do peso, o equipamento exige um mínimo de ambiente para sua utilização – mesa e sombra, por exemplo – e conservação – nada de suor, poeira, boladas etc.

Nessa pesquisa, efetuada nos sítios da Internet e em revistas especializadas em informática, vi que os Portables Digitals Assistants (PDA), também conhecidos como handhelds (apoiado nas mãos) se adequavam aos propósitos do trabalho: possuem sistemas operacionais compatíveis com os computadores de mesa e compartilham com eles informações, através de versões simplificadas de programas largamente utilizados (processadores de texto, planilhas, navegadores de Internet etc.). Ao invés de teclados, a entrada de dados é efetuada através do toque na tela, o que torna fácil o manuseio do equipamento de pé ou em movimento, em meio aos alunos.

Baseado num teste realizado pelo INFOLAB (2003, p. 50-77) e acreditando que o PDA poderia agregar maior eficiência no registro, decidi assumir o investimento para investigar sua utilização. A opção pelo modelo levou em consideração os seguintes aspectos da pesquisa citada: compatibilidade com o sistema operacional Windows – o adotado em meu computador de mesa –, a qualidade da tela – para uso em ambiente externo – e a conectividade, seja via Internet, infravermelho ou rede. Adquiri, então, o SX45 da Siemens, que possui um processador MIPS de 150 MHZ e 32 MB de memória, sistema operacional Windows CE 3.0, tela de 7,9cm de altura por 6cm de largura (a maior da categoria), 65.536 cores e som estéreo, com reprodução de MP3. A pesquisa aponta como desvantagem do equipamento o seu tamanho (13,2cm de altura, 8,2cm de largura, 2,5cm de espessura) e peso (295g).

O final de 2003 foi dedicado à familiarização com o aparelho. Instalando o programa Active Sync no computador de mesa é possível sincronizar os arquivos armazenados nele com os do PDA e vice-versa. A partir de então, documentos produzidos no Microsoft Word ou planilhas preparadas no Microsoft Excel puderam ser abertos e utilizados no PDA. Os planos de aula deixaram de ser impressos para serem consultados na tela do equipamento. Passei, também, a efetuar no equipamento o registro das observações. Com a prática, constatei que o equipamento era bastante confiável, migrando dados com segurança, de fácil operação, robusto para a utilização pretendida e funcionava por muitas horas somente com a energia da bateria.

Em 2004, o PDA foi incorporado à rotina das aulas, servindo para registrar a presença dos alunos, os dados da avaliação antropométrica efetuada semestralmente, os comportamentos observados, os planos de aula, o roteiro de atividades novas, quadro de horários, calendário escolar, telefones úteis etc. Além disso, serviu como material de apoio ao ensino ao executar sons em mp3 nas atividades de discriminação auditiva, ou executar vídeos das mascotes olímpicas em Atenas, disponibilizados no sítio oficial dos jogos, que os alunos assistiram em pequenos grupos na tela do equipamento.

Com o uso do PDA, os dados registrados foram tabulados com maior rapidez, consumindo menos tempo de trabalho docente, tornando possível compartilhar as observações individuais dos alunos com os professores-referência de cada turma de uma forma mais efetiva. Foi possível, também, verificar a aplicabilidade de alguns testes, preparando terreno para estudos futuros da fidedignidade dos resultados.

Pude, então, constatar na prática que o PDA em muito pode beneficiar o trabalho docente, não apenas para armazenar as informações apuradas no decorrer das aulas, como pensava anteriormente, mas para permitir consultas rápidas ou o uso de recursos audiovisuais em ambiente externo, por exemplo. Fora das situações de aula, em qualquer lugar que se esteja é possível redigir ou revisar um texto, analisar resultados etc. Em nossa escola, muitas vezes o computador não está disponível ou simplesmente não funciona. Com o PDA, muitas tarefas podem ser iniciadas nele e finalizadas no computador de mesa. É útil também para o aprimoramento pessoal e profissional, na medida em que já se encontram no mercado inúmeras obras digitalizadas, em formato compatível com o Microsoft Reader. É apenas uma questão de tempo e incentivo ao desenvolvimento de aplicativos voltados ao trabalho docente. Áreas como medicina e direito já contam com diversos aplicativos e livros digitalizados.

A inexistência de aplicativos específicos para a atividade docente tem implicado em um trabalho maior do que o que seria necessário caso houvesse um software apropriado. Para minimizar isso, desenvolvi uma metodologia de trabalho que facilita o registro das observações e sua análise. Entretanto, a emissão de relatórios é ainda um entrave, pois não há procedimentos automatizados para tal que permitam filtragens para o isolamento de uma ou mais variáveis.

Quanto às técnicas para manejo do PDA em meio às situações de aula, por ter utilizado o maior e mais pesado modelo da categoria, não foi possível recorrer a bolsos para guardá-lo quando fora de uso. Para isto, utilizei um pequeno bornal, de onde ele é rápida e facilmente retirado quando necessário. Para evitar o contato direto de mãos – geralmente úmidas de suor e empoeiradas –, o PDA foi acondicionado em uma capa emborrachada, na verdade uma carteira adaptada para acondicioná-lo, tendo em vista a dificuldade de achar no mercado uma capa compatível. O emborrachado, além de evitar que o equipamento escorregasse das mãos, ofereceu maior proteção contra choques (boladas, por exemplo) e quedas. Por fim, para proteger a tela de umidade, poeira, gordura etc., utilizei uma película plástica auto-adesiva disponível no mercado.

INFOLAB. Palmtops. Info Exame, São Paulo, ano 18, n. 207, p. 50-77, jun. 2003.

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu caro, vi no seu post que vc usa o auxilio do pda no trabalho de acompanhamento das aulas e avalação, inclusive cita que vc criou "uma metodologia de trabalho que facilita o registro das observações e sua análise". Estou trabalhando em um projeto para acabar com esta dificuldade de automação, relatórios, etc, gostaria de contato para troca de idéias. (slcf79@hotmail.com)